Pânico
Luciano Melo
12/29/20253 min read


Transtorno do Pânico: quando o medo toma o corpo e a mente
O Transtorno do Pânico é uma condição psicológica que provoca crises intensas e inesperadas de medo, acompanhadas por fortes reações físicas e emocionais. Quem vive essa experiência costuma relatar que a crise surge “do nada”, sem aviso, e toma o corpo de forma avassaladora, criando a sensação de que algo muito grave está prestes a acontecer.
Durante uma crise de pânico, o corpo entra em um estado extremo de alerta. Podem surgir sintomas como aceleração dos batimentos cardíacos, falta de ar, aperto no peito, sudorese excessiva, tremores, tontura, náusea, sensação de desmaio, formigamentos, calafrios ou ondas de calor. Em nível emocional, é comum aparecer um medo intenso de morrer, enlouquecer ou perder completamente o controle.
Embora esses sintomas sejam profundamente angustiantes, é fundamental esclarecer que o pânico não é um ataque cardíaco, não leva à morte e não indica loucura. O sofrimento é real, mas sua origem está no funcionamento psíquico e na forma como o corpo responde a estados internos de angústia.
Com o passar do tempo, muitas pessoas passam a viver não apenas com as crises em si, mas com o medo constante de que uma nova crise aconteça. Esse medo antecipatório pode ser tão intenso quanto a própria crise, levando o indivíduo a evitar lugares, situações, compromissos e até relações. Assim, o mundo vai se tornando cada vez menor, e a pessoa passa a organizar sua vida em função do medo.
É comum que o transtorno do pânico venha acompanhado de sentimentos de vergonha, incompreensão e solidão. Muitas pessoas escutam frases como “isso é falta de controle”, “é exagero”, “é coisa da sua cabeça” ou “é só se acalmar”. Essas falas, embora muitas vezes bem-intencionadas, aumentam o sofrimento, pois desconsideram a complexidade do que está sendo vivido.
Do ponto de vista clínico, o pânico pode ser compreendido como uma manifestação intensa de angústias profundas que não encontraram espaço de elaboração psíquica. Aquilo que não pôde ser simbolizado, dito ou compreendido, encontra no corpo uma forma abrupta de expressão. O corpo passa a falar aquilo que a palavra ainda não conseguiu alcançar.
Na psicanálise clínica, o transtorno do pânico não é reduzido apenas a um conjunto de sintomas a serem eliminados. Ele é escutado como um sinal de algo que precisa ser compreendido. Cada crise carrega uma história, um contexto emocional, experiências acumuladas, conflitos internos e modos singulares de lidar com o desejo, a perda, o controle e a angústia.
O processo terapêutico oferece um espaço seguro, ético e acolhedor para que o paciente possa, pouco a pouco, dar sentido ao que antes surgia apenas como medo sem nome. Ao longo do acompanhamento, o sujeito aprende a reconhecer seus limites, identificar gatilhos emocionais, compreender sua própria dinâmica psíquica e construir novas formas de relação consigo e com o mundo.
O tratamento não se baseia apenas em “controlar a crise”, mas em promover autoconhecimento, fortalecimento emocional e ampliação da autonomia psíquica. À medida que a pessoa se apropria de sua história e de seus afetos, o pânico tende a perder força, pois já não precisa mais se manifestar de forma tão extrema.
É importante reforçar que buscar ajuda não é sinal de fraqueza, mas de responsabilidade consigo mesmo. O transtorno do pânico tem tratamento, e a escuta clínica adequada pode transformar profundamente a relação do sujeito com sua própria angústia.
Cuidar da saúde emocional é um processo, e cada passo nessa direção representa um movimento de vida. O sofrimento não define quem a pessoa é, mas aponta para algo que precisa ser cuidado, compreendido e elaborado.
Texto autoral
Luciano Melo
Psicanalista Clínico